Todos nós temos histórias, acontecimentos que moldaram a nossa trajetória e nos fizeram chegar a esse momento, a esse texto. A Raks não poderia ser diferente! Acredito que a beleza das histórias está em compartilhar e cruzar umas com as outras, então vamos conhecer o caminho que trouxe a Raks até aqui.
Tudo começou em janeiro de 2015, quando dois estudantes do Curso Técnico em Eletrônica buscavam problemas para resolver em seu trabalho de conclusão. Fica até estranho colocar dessa forma, pois problemas temos de sobra, consequentemente não seria necessário procurar muito. Contudo, esses estudantes desejavam causar um grande impacto na sociedade e buscavam algum problema que fosse realmente motiva-los a fazer a diferença. Foi então que encontraram uma notícia tratando da crise hídrica que aconteceu em São Paulo, na qual grandes reservatórios de água operaram em volume morto e as pessoas não tinham mais água para beber. Esse momento foi decisivo para a Raks que conhecemos hoje, para motivar os estudantes a pesquisarem sobre o recurso hídrico e descobrirem que 70% da água mundial é destinada a agricultura e aproximadamente 50% desse total acaba sendo perdido em processos de irrigação, não revertendo em aumento de produtividade. Visto isso, eles sabiam que haviam achado a sua causa. Na verdade, us sabíamos. Eu sou uma das estudantes da história, Fabiane Kuhn, que junto com o meu colega Guilherme Ramos, fui correndo contar para o nosso professor orientador Marco que havíamos encontrado um problema para resolver. Nesse momento não sabíamos no que estávamos nos metendo, não imaginava que hoje estaria escrevendo para o blog da minha própria empresa.
Começamos a pesquisar de forma incansável para entender mais da irrigação, conhecer as tecnologias atuais e propor uma solução para otimizar a tomada de decisão em campo. Após diversos testes e pesquisas tomamos uma decisão que eu vejo como crucial em nossa história. Decidimos criar um novo sensor de umidade do solo para que o agricultor consiga saber de forma confiável e precisa o momento de acionar a irrigação, além de permitir que nós mesmos pudéssemos adicionar novas funcionalidades. Tomar a decisão foi fácil, o difícil foi executar. Criar um novo sensor de umidade do solo estando no ensino médio integrado ao técnico parecia algo impossível, mas a história da Raks não me surpreenderia tanto se não tivesse sido tão desafiador. Após muitos dias, muitas noites, muitas madrugadas dentro de laboratórios ou trabalhando em casa para criar algo bom, finalmente conseguimos! Utilizamos o princípio físico da Reflectometria no Domínio Tempo (TDR) para medir a umidade do solo com o nosso próprio sensor. Ele ainda era feio, artesanal, mas funcional. Nesse momento eu soube que a minha história de estudante iria mudar, só não sabia o quanto.
Com esse projeto participamos de feiras de ciência no Brasil e no exterior, recebendo prêmios como:
- Primeiro Lugar na categoria de Engenharia Eletrônica na MOSTRATEC, maior feira de ciências da américa latina;
- Terceiro Lugar na categoria de Sistemas Embarcados na INTEL ISEF, maior feira de ciência e engenharia do mundo, que ocorre nos Estados Unidos;
- Prêmio Especial SPIE – The International Society for Optics and Photonics na INTEL ISEF;
- Prêmio Mercosul de Ciência e Tecnologia;
Em todas essas oportunidades nosso projeto foi avaliado como inovador e muito promissor, foi então que percebemos que não poderíamos parar por ali, que o projeto precisava virar produto. Com essa decisão em mente, decidimos montar uma startup, embora os nossos conhecimentos fossem totalmente técnicos e sem base de negócio. Nos desafiamos a aprender, e ainda estamos aprendendo.
Ao conversar sobre a futura empresa, decidimos adicionar um quarto sócio, que também havia desenvolvido um projeto de pesquisa na área de agricultura, mais precisamente em detecção da compactação do solo. Vinicius Muller também havia sido orientado pelo Marco Sauer e havia recebido um prêmio com o projeto que o levou para um estágio de verão no Instituto Weizmann em Israel, país referência no setor agro e no desenvolvimento de novas tecnologias.
Foi assim que surgiu o time da Raks, três técnicos em eletrônica e um engenheiro e professor. Todos apaixonados pela possibilidade de fazer a diferença e de desenvolver novas tecnologias de impacto.
Em maio de 2017 a história desse time passou a andar mais junta, eu me demiti para trabalhar de forma integral na Raks com o Guilherme, logo depois o Vinicius se demitiu e nós três passamos a apostar tudo na startup. Nossa história, assim como qualquer uma, teve altos e baixos. Houve momentos em que duvidamos de nosso potencial de transformar um projeto de pesquisa com um protótipo de sensor em um produto para instalar em propriedades agrícolas. Houveram momentos em que os desafios do caminho se mostraram gigantes e impossíveis, mas eu não estaria contando essa história se realmente fossem impossíveis, não é mesmo? Com muito trabalho superamos os obstáculos, vencemos a etapa nacional da maior competição de empreendedorismo universitário do mundo, o Global Student Entrepreneur Awards e eu fui a primeira mulher a representar o Brasil na final mundial em Toronto no Canadá. Vencemos a Campus Mobile, uma competição de desenvolvimento de aplicativos, e como premiação eu, Vinicius e Guilherme fomos para uma imersão no Vale do Silício, conhecemos diversas empresas de lá e voltamos renovados. Vencemos a categoria Sustentabilidade do prêmio Vencedores do Agronegócio. Apresentamos a nossa solução diversas vezes, para agricultores, para investidores, para curiosos, contamos a nossa história.
A cada dia a Raks escreve uma nova página dessa história, um livro que possui frustrações, alegrias e conquistas. Uma história que hoje conta com um sistema em etapa final de validação, com agricultores parceiros para testes e para iniciar as vendas, uma história que prevê o lançamento do produto no mercado ainda no primeiro semestre deste ano. Uma história que pode ser mudada a cada dia, mas essa é a beleza dela, ainda temos muitas páginas em branco para preencher com novas experiências e novos momentos.
Hoje a história da Raks não cruza apenas a minha vida, ou a vida dos outros sócios, hoje ela já cruza diversas histórias, talvez inclusive a your.
Um grande abraço,
Fabiane Kuhn.